A obra de um pensador é muitas vezes marcada por eventos, que impõem inexoravelmente transformações em seu horizonte inicial de colocação dos problemas, em seu modo de tratamento dos problemas e em seus pressupostos em relação àquilo que parece se mostrar a princípio como condição de possibilidade de se fazer frente aos problemas. Esses eventos podem apontar para crises internas aos projetos iniciais, para experiências traumáticas no âmbito da existência individual tanto quanto para acontecimentos eminentemente históricos que alteram de maneira radical as perspectivas sobre o todo. Bem, mas isso que vale em geral para todos os pensadores, ganha um sentido mais decisivo no que concerne à obra de Martin Heidegger. E por algumas razões: em primeiro lugar porque, desde o seu primeiro despontar na década de 1910 até seus últimos escritos no limiar da morte na década de 1970, a filosofia de Heidegger procura se confrontar com a questão da história e do poder prescritivo dos horizontes históricos sobre nós, articulando sempre verdade e liberdade em relação a tais horizontes; em segundo lugar porque a primeira metade do século XX, tempo de aparição e consolidação de Heidegger como um dos grandes da história da filosofia, é caracterizada justamente pelas lutas em torno da conquista de uma nova relação com as coisas, com os outros e com nós mesmos, lutas essas que passaram a convocar diretamente o pensamento de Heidegger; por fim, porque a própria maturidade do pensar heideggeriano é alcançada em meio a uma radicalização de suas posições na década de 1920 que não tem como ser dissociada dos acontecimentos pelos quais passa a Alemanha e a Europa nos anos de 1930. E é nesse contexto, então, que o livro Contribuições à filosofia (Do acontecimento apropriador) ganha um lugar privilegiado nos marcos do caminho de Heidegger: o lugar de uma segunda obra capital. Ser e tempo buscara pensar o mundo como um horizonte de preconceitos historicamente constituídos, que só recuperava a sua
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